sábado, 20 de janeiro de 2018

37 - UM EPISÓDIO ESCRITO SÉCULOS DEPOIS DO ÚLTIMO EPISÓDIO


Visto a t-shirt e mudo o meu modo de narrar. De repente, nesta diversa personalidade, quase um heterónimo, recordo-me do nome da proprietária do Safari. É Judite. Ou... hum... Laura?
Bem, deixemos isso.
O Abrantes pegou no Padre pelo cotovelo, no Firmo pelo braço, e levou-os à bruta para longe dali. Queria uma reunião em silêncio. Infelizmente, pela janela do gabinete para onde os levou, na esquadra, que não era longe do Safari, entravam ainda as inclementes fadistices do gordo, que com um auditório cada vez maior, decidiu que não se calaria tão cedo. Talvez fizesse daquilo profissão. Cantarolaria, um chapéu no chão para onde deixassem cair moedas, porventura um guitarrista.
"E quando a morte se foi", entoava o maganão, "do meio da multidão, reunida como uma praga, uma voz um tanto gaga, perguntava em contramão, ó morte, que apagas a vida mais sã, quando vens tu outra vez, virás hoje, ou amanhã, ou só no próximo mês?"
Vou prender este tipo, insurgia-se Abrantes.
Firmo Formigal mandou-o calar. Homem, disse-lhe. Isto é filosofia da mais pura. Há mais Heidegger num fado português do que em centenas de tratados sobre a sua obra.
Oiçam, impôs-se Chefe Abrantes. Eu estou preocupado, nomeadamente, com a série de crimes. Preciso do culpado. O resto não importa.
Nada disto tem o menor significado, sacudiu, o Padre, uma melancólica cabeça. Quando chegarem os Ellog, que estão aí à porta...
E nesse momento, a porta abriu-se.