terça-feira, 19 de julho de 2016

21 - "CAFÉ" SAFARI


Mas entretanto, enquanto o Padre responde e não responde à missiva, vale a pena dar-se um pulo ao «incontornável» Café Safari ["Café", evidentemente, é uma hipérbole; mas assim gosta a senhora de designar a sua tasca], onde o grupo do costume se reúne, sob o signo da apreensão.
O Marcial estava no exterior, com o Sidónio Matacão, quando viram aproximar-se o Chefe Abrantes.
Sidónio acenou-lhe - o que foi um gesto que bem poderia ter evitado por causa causa do fedor que emanava das axilas. Marcial ainda protestou: Apre! [O termo não foi exactamente esse, mas mantenhamos o escrito dentro de certos limites.]
SIDÓNIO MATACÃO - Anda daí, menino. Pago-te uma.
MARCIAL - Vens acompanhado? Quem é o figurão?
SIDÓNIO MATACÃO - Oh Marcial, pá, tem maneiras, homem. Mas, de facto, quem é o figurão, ó Chefe?
CHEFE ABRANTES - Rapazes. Apresento-vos nomeadamente o Inspector Cláudio Ramos.
MARCIAL & SIDÓNIO [ao mesmo tempo] - Inspector!?
CHEFE ABRANTES - Sim, rapazes. Hoje não venho nomeadamente para a farra. Aliás, nomeadamente, nem posso beber. Estou de serviço. Ambos os dois, nomeadamente. Na verdade, viemos para vos interrogar.
Marcial e Sidónio estão estupefactos. Sabiam que havia suspeitos, mas nunca pensaram que os suspeitos fossem eles próprios. E o Chefe Nomeadamente, que era seu amigo, encontrava-se do outro lado da barricada. Não bebia. E queria interrogá-los. Até falava em que teria de os colocar numa fila de suspeitos, para ver se a vizinha reconhecia algum deles.
SIDÓNIO MATACÃO - A vizinha!? Mas qual vizinha?
INSPECTOR RAMOS - A do andar de baixo.
SIDÓNIO MATACÃO - Mas...mas...mas... a Dona Aurora não é cega?
CHEFE ABRANTES - Nomeadamente invisual. Não é cega, invisual é que se diz, nomeadamente. Sim.
SIDÓNIO MATACÃO - Hão-de desculpar-me, mas isto está a escapar-me. Então, se a Dona Aurora é cega, nomeadamente invisual, como poderá reconhecer os assassinos?
INSPECTOR RAMOS - Pois a ideia é que os suspeitos batam com os pés no chão, para que a senhora identifique as passadas.
Nesse momento, apareceu a proprietária do estabelecimento. Vinha protestar, porque se gastava muito em conversa e pouco em cerveja. Nesse momento, repararam todos em algo em que, curiosamente, nenhum destes homens observadores reparara ainda. A «feiticeira» ostentava, como Madame Dimanche (e, já agora, como o assassinado da nossa história) um perfeitíssimo corno na testa.
CHEFE ABRANTES - «Operação Corno Duro» em pleno!
TODOS - Como!?

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